Quando pensamos em tratamento da obesidade sempre pensamos em simplesmente perder peso. Mas será que é isso mesmo? Será que basta buscar maneiras de ficar magro para tratar a obesidade? Nesse blog vou te explicar um pouco melhor sobre isso.

Excesso de peso = sintoma de obesidade

De um modo bem simplista, muitos entendem que as pessoas engordam porque comem muito e são sedentárias. Também é do senso comum a obesidade ser considerada consequência apenas de fatores comportamentais, ou seja, falta de força de vontade. Avanços no conhecimento nos permitem saber que a obesidade é uma doença complexa, crônica e que envolve a interação de fatores genéticos, ambientais, comportamentais, sociais e psicológicos influenciando no balanço energético e no controle de peso. Isso permite afirmar por exemplo, que existem sim, pessoas mais suscetíveis ao ganho de peso e outros altamente resistentes.

Isso significa que para uma doença tão complexa o tratamento com certeza não pode ser considerado simples. E que o processo de emagrecimento é sim um dos objetivos primários do tratamento, mas que a simples busca por um número menor na balança, não importando a estratégia ou os meios para se conseguir isso, com certeza não trará qualidade de vida!

O excesso de peso é apenas um sintoma da obesidade. Portanto, é um erro resumir a obesidade ao excesso de peso. Ela é uma doença que induz ao corpo a um estado pró-inflamatório, e por isso há diversos outros sinais e sintomas, e doenças concomitantes, além do ganho de peso. Entre eles:

Ou seja, quando pensamos em um tratamento para obesidade não devemos considerar só o excesso de peso, mas todos os riscos que aquela pessoa vem vivenciando. O foco do tratamento para obesidade sempre vai ser a saúde, bem-estar e qualidade de vida do paciente, por isso não podemos ter um olhar descolado para obesidade, pensando nela apenas como um desafio para perder peso a qualquer custo.

Conhecendo as causas

Outro ponto importante para avançarmos no entendimento da obesidade e pararmos de enxergá-la apenas pela ótica do excesso de peso, como se fosse uma questão estética ou falta de vontade, é lembrar que ela é uma doença multifatorial.

Historicamente a sobrevivência dos seres humanos dependeu de sua enorme capacidade de armazenar energia no tecido adiposo e defender esses depósitos em situações de privação calórica. Ou seja, ao longo dos tempos foram sendo selecionados geneticamente indivíduos capazes de se adaptar melhor a escassez. Com a evolução, a obesidade tornou-se um problema pois resulta da maior disponibilidade de alimentos e no estilo de vida moderno em um organismo adaptado ao longo dos séculos para a situação justamente oposta.

São muitos fatores que desencadeiam e perpetuam o excesso de peso. Existe a interação de questões genéticas, emocionais, sociais (quando a pessoa passa, por exemplo, a conviver em um ambiente que dificulta o acesso à comida saudável ou facilite e estimule o consumo de comida hipercalórica).

Alterações importantes na composição e na função da flora intestinal também tem sido apontadas pelos estudos como contribuintes para obesidade. Em seres humanos obesos foi evidenciado um número reduzido de Bacteroidetes e um aumento proporcional de Firmicutes, além disso, dietas ricas em gordura podem afetar a integridade do epitélio intestinal, aumentado a permeabilidade a compostos e endotoxinas capazes de levar a inflamação sistêmica.

Há também doenças, como depressão e ansiedade, transtorno de compulsão alimentar que podem levar ao excesso de peso.

Por isso, se tratarmos só o sintoma, sem levar em conta as possíveis causas, o indivíduo não vai receber um tratamento de verdade, e sim só um efeito “paliativo”. No qual, se alivia o sintoma mais incômodo (o excesso de peso), mas não trata as causas ou os distúrbios nutricionais e metabólicos associados.

Avaliação individual

Aposto que você já deve ter ouvido um monte de vezes a frase “avaliação individual” quando se trata de obesidade. Mas, o que realmente é uma avaliação individual?

Além de considerar todos os sintomas que a pessoa com excesso de peso tem e as possíveis causas que resultaram no excesso de peso, a avaliação individual é centrada na pessoa, leva em conta o histórico de vida, fatores emocionais, vivencias, experiência de tratamentos anteriores, numa abordagem ampla que considera o sujeito em sua individualidade e complexidade.

Uma questão que sempre abordo com os meus pacientes diz respeito a sua expectativa em relação ao seu objetivo de perda de peso. Perdas de peso de 10 a 15 % do peso corporal inicial já apresentam grande impacto positivo do ponto de vista metabólico. Além disso, mais importante do que a perda inicial é a manutenção do peso perdido. Muitos pacientes, buscam metas de perda muito excessivas o que pode gerar frustração e abandono do tratamento.

A cada dia surgem novas dietas que prometem grandes reduções de peso, “as dietas da moda”. Para a maioria dos pacientes que já tentaram todas as alternativas para emagrecer, o surgimento de uma nova dieta pode significar a renovação da esperança de alcançar o tão sonhado objetivo, muitas vezes expondo o paciente a riscos importantes. Por isso a importância do tratamento envolver uma equipe diversificada, incluindo além do endocrinologista, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

Há também casos em que a influência dos hormônios contribui para a obesidade, como após a menopausa, que facilita o acúmulo de gordura abdominal. Essas pacientes também precisam de uma avaliação do endocrinologista. Ou seja, cada paciente é um, com diversos fatores agindo em conjunto sobre o seu corpo e favorecendo ao ganho de peso.

No tratamento da obesidade, devemos buscar tratar a pessoa, sempre considerando que essa é uma condição crônica, multifatorial e, portanto, pode haver diferentes níveis de dificuldade para o emagrecimento, portanto o paciente precisará de atenção e cuidado para vida toda, mesmo após perder peso!